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Um terço dos infectados com covid-19 continua com sintomas após fase aguda

Um terço dos infectados com covid-19 continua com sintomas após fase aguda

Um em cada três pessoas que têm covid-19 continuará com sintomas, mesmo após a fase aguda. Fadiga é a sequela mais comum, mas estudo descobre diferenças entre pacientes hospitalizados e aqueles com atendimento ambulatorial

P ara 30% dos sobreviventes do Sars-CoV-2, a doença causada por ele não acaba com o fim dos sintomas. Bastante estudada desde os primeiros casos de recuperação da fase aguda, a chamada covid longa caracteriza uma série de condições que acompanham os pacientes mesmo depois de curados da infecção. Havia dúvidas, porém, sobre sua prevalência. Agora, um estudo publicado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (Ucla), constatou que as sequelas estão presentes em uma de três pessoas afetadas pelo coronavírus.

Segundo Sun Yoo, professor clínico de ciências da saúde na Escola de Medicina David Geffen da Ucla, “a incidência e os fatores de risco da covid longa, e até mesmo a definição da síndrome, permaneceram obscuros ao longo da pandemia”. Por isso, ele se associou a outros pesquisadores para avaliar características como sintomas, prevalência e incidência, em um grupo de 1.038 pacientes de covid-19, dos quais 309 apresentaram consequências persistentes da infecção.
Como esperado, pessoas com histórico de hospitalização, diabetes e índice de massa corporal mais alto eram mais propensos a desenvolver a síndrome. Contudo, para a surpresa dos pesquisadores, características associadas previamente à covid longa e à gravidade da doença, como idade avançada e status socioeconômico, não tiveram relação, neste estudo, com a permanência dos sintomas depois da fase aguda.

Acompanhados por um ambulatório da própria Ucla desde o início da infecção, 30,8% dos pacientes que foram hospitalizados e 26,5% daqueles que receberam atendimento ambulatorial desenvolveram a síndrome. No total, 29,8% dos 1.038 incluídos no estudo tiveram sintomas persistentes, que se mantiveram por mais de 30 dias. Os mais comumente relatados foram fadiga (73,2%), seguida de falta de ar (63,6%), febre e calafrios ( 51,5%) e, por fim, dores musculares (50,6%).
Passados 60 dias da infecção, a fadiga foi o sintoma mais relatado (31,4%), seguida de falta de ar (13,9%) e perda de paladar ou olfato (9,8%). Febre persistente (1,9%) e erupção cutânea (< 1%) foram raras. Ao comparar pacientes hospitalizados com os ambulatoriais, o cansaço crônico foi o sinal persistente mais comum em ambos os grupos. Entre os que ficaram internados, a falta de ar (15,4%) ficou em segundo lugar, de acordo com o artigo, publicado na Internal Journal of Emergency Medicine.

Os fatores associados à síndrome pós-covid também foram diferentes entre pessoas tratadas no ambiente hospitalar versus ambulatorial. No segundo, os pacientes eram mais jovens, com maior probabilidade de serem brancos. Mulheres e indivíduos com seguro saúde eram a maioria. Já em relação aos internados, idade e etnia não se correlacionaram com a permanência de sintomas, embora o sexo feminino tenha sido, estatisticamente, mais afetado. De acordo com Yoo, o estudo destaca a necessidade de se considerar diversos fatores nas investigações sobre covid longa, incluindo alguns que não foram incluídos nessa pesquisa em particular.
“O estudo ilustra a necessidade de se acompanhar longitudinalmente diversas populações de pacientes para entender a trajetória da covid longa e avaliar como fatores individuais, como comorbidades pré-existentes, fatores sociodemográficos, status de vacinação e tipo de variante do vírus, afetam o tipo e a persistência da covid longa”, diz. “Nosso estudo também levanta questões como: por que os pacientes com seguro privado tinham duas vezes mais chances de desenvolver covid longa? Como os sintomas persistentes podem ser de natureza subjetiva, precisamos de melhores ferramentas para diagnosticar com precisão a síndrome. Finalmente, precisamos garantir o acesso equitativo aos cuidados ambulatoriais da covid longa.”

Fardo

Deborah Dunn-Walters, professora de imunologia da Universidade de Surrey, no Reino Unido, concorda que são necessários mais estudos para caracterização da covid longa, incluindo o perfil dos pacientes mais suscetíveis. “Apesar das tentativas de caracterizar a síndrome, há uma diversidade de sintomas associados. Não compreendemos ainda todos os processos que estão por trás da covid longa”, diz. De acordo com a especialista, acredita-se que o sistema imunológico desempenhe um papel no desenvolvimento da síndrome em um número significativo de casos, provavelmente como resultado de uma resposta imune super-reativa e/ou levemente mal tratada durante a infecção aguda.

Para ela, uma das formas mais eficazes de evitar a persistência dos sintomas, o que afeta não só o paciente, mas pode se tornar um fardo para os sistemas de saúde, é a vacinação. “Revisões de estudos têm mostrado que, pessoas vacinadas e que pegam covid são menos propensas a desenvolver a forma longa se tiverem recebido uma ou duas doses do imunizante, em comparação com indivíduos não vacinados. A melhor forma de evitar os sintomas pós-covid é se vacinar.”

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