Dados da Sivep-Gripe mostram que as internações causadas pela doença caíram ao menor nível desde o começo da pandemia no país
O número de internações em unidades de terapia intensiva (UTI) de pacientes com Covid-19 em outubro foi o menor no Brasil desde março de 2020. No mês passado, 8.216 pessoas infectadas pelo coronavírus deram entrada em UTIs no
Em relação a setembro, houve queda de 38,7% nesse indicador. Desde junho, o número de indivíduos que precisam ficar em um hospital por causa da Covid-19 apresenta declínio. Segundo especialistas, trata-se de um reflexo do avanço da imunização.
Durante março do ano passado, quando foi notificada a primeira morte por Covid no Brasil, 8.506 pessoas foram internadas em unidades de terapia intensiva com a doença.
Os dados podem ser observados no gráfico a seguir:
As informações analisadas pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, são do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), do Ministério da Saúde. O período analisado compreende desde o início da pandemia, em março do ano passado, até o fim do mês de outubro de 2021.
Após o pico registrado em abril de 2020, com 64.115 internações, hospitais e secretarias de Saúde de todo o país, impulsionados pelo avanço da campanha de imunização, começaram a relatar melhoras na quantidade de pacientes com a doença.
Há quatro dias, por exemplo, o Hospital de Clínicas de Curitiba (PR), maior unidade de saúde do estado, fechou sua última ala exclusiva para pacientes com Covid-19. Houve comemoração dos profissionais que trabalham no hospital. No Distrito Federal, uma grande rede de hospitais particulares também desmobilizou suas unidades exclusivas para pacientes infectados, no último dia 18.
As medidas foram possíveis com a redução dos casos registrados e, consequentemente, das internações de pacientes que contraíram o vírus. Na última semana epidemiológica – entre os dias 14 e 20 de novembro –, 58.312 novos casos foram computados, o menor número desde abril do ano passado.
Para Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a queda nas internações é positiva e reflete a capacidade de os imunizantes reduzirem as formas graves da Covid-19.
“Sem dúvida nenhuma, nossa situação é muito melhor [que antes]. E isso era o esperado com o início da vacinação. Para aqueles incrédulos com relação à vacina, essa melhora no cenário mostra que elas funcionam. É uma redução expressiva, e isso só aconteceu porque avançamos na vacinação”, explica.
A especialista, entretanto, chama a atenção para o relaxamento de medidas restritivas tomadas e a falta de testagem em massa, ação realizada por diversos países para monitorar a situação real da pandemia e que nunca foi estabelecida como se deveria no Brasil.
“Avançando na vacinação, precisávamos avançar também na testagem, que, a partir de agora, passa a ser fundamental para rastrearmos a circulação do vírus. Isso é importante para o planejamento de medidas de flexibilização e também de revacinação. Isso é importante para que o que acontece hoje com a Europa não vire uma realidade aqui”, afirma Stucchi.
O cenário descrito pela infectologista vem fazendo com que governos europeus repensem o relaxamento das restrições. O medo de uma “quarta onda” no continente fez com que Hans Henri Kluge, diretor regional da OMS para a Europa, apelasse para que os mandatários voltassem a exigir o cumprimento de ações preventivas, como o uso de máscaras.
De acordo com ele, as projeções mostram que, se a adesão ao equipamento atingir 95%, será possível salvar até 188 mil vidas entre as 500 mil que podem ser perdidas até fevereiro de 2022, caso o aumento das infecções pela doença seja mantido.
Na Áustria, o governo anunciou que fará um lockdown seletivo, destinado às pessoas que não tomaram vacina. Na Holanda, as restrições foram retomadas no comércio, alterando horários de funcionamento para diminuir as janelas de contágio. Na sexta-feira (12/11), a Noruega já havia anunciado medidas para controlar o vírus, que incluíram o aumento da testagem para os profissionais de saúde que não querem se vacinar e a recomendação de que os “passaportes de vacina” sejam exigidos para reuniões de pessoas nas cidades onde a situação é mais grave.
“Com certeza, temos muito o que comemorar, mas não significa, ainda, que a guerra contra o vírus terminou com uma vitória”, conclui Raquel.