Caiado candidato à Presidência seria ótima pedida para “endireitar a direita”
Se Lula e o governador de Goiás forem os protagonistas do próximo pleito nacional, haverá o fecho perfeito para a volta da política a seu eixo natural
Nas últimas semanas, muito se tem falado sobre a relação entre o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma dupla que, até algum tempo atrás, representaria a mistura (impossível) entre água e óleo. Adversários ferrenhos no passado, eles agora ocupam posições em que não podem se dar ao luxo de simplesmente virarem a cara um ao outro – e talvez nem queiram mesmo fazer isso.
O petista já carrega nas costas oito anos no Poder Executivo de um País complicado e usa sua experiência agora para conduzir, da melhor forma, um início conturbado de terceiro mandato, por tudo o que o precedeu. Já o chefe do Executivo goiano inicia seu quadriênio de recondução muito bem aprovado – foi eleito em primeiro turno, diga-se – pelo que fez em sua estreia em um cargo do tipo, depois de décadas no Parlamento.
Lula e Caiado conduzem administrativamente uma situação de boa vizinhança que vai mudar assim que 2026 chegar. Se em política nunca existe nunca, por outro lado ninguém sonha que um esteja no mesmo palanque que o outro nas próximas eleições presidenciais. O que pode acontecer com mais probabilidade é exatamente o contrário: ambos serem rivais na disputa pelo Planalto.
Depois de repetir exaustivamente durante a campanha que este atual seria seu último mandato, o presidente já coloca no horizonte – alguns avaliam que cedo demais – uma eventual candidatura a mais quatro anos, se a conjuntura e o físico de um corpo de 81 anos (idade que terá, então) deixarem. Ser octogenário não é problema: Iris Rezende assumiu a Prefeitura de Goiânia em 2017 com 83 anos e Konrad Adenauer deixou o cargo de chanceler da Alemanha aos 87, após ser o esteio de sua reconstrução no pós-guerra. As mesmas condições valem para Caiado, que também não será nenhum jovenzinho – tem 73 anos e concorreria com 77.
Se o petista teve como principal missão vencer Jair Bolsonaro (PL) e lhe tirar um segundo mandato que poderia encaminhar o Brasil para o rumo das chamadas “democracias iliberais”, ao modelo húngaro de Viktor Órban, o governador Caiado seria o nome ideal para “endireitar a direita”, que se encontra tragada pelo extremismo e pelo fundamentalismo.
Um duelo entre Lula e Caiado pela Presidência seria um “revival” de 1989, quando os dois eram candidatos ao cargo. O petista representava, então, uma esquerda tida como radical; já o goiano era um recém-quarentão, líder dos produtores, presidente da União Democrática Ruralista (UDR) e ganhara muita visibilidade durante a Assembleia Nacional Constituinte.
Mais do que isso, esse reencontro na corrida pela cadeira do Planalto seria simbólico como um fechamento do processo da volta da política a seu eixo natural, em que dois lados ideológicos se digladiam pela vitória, mas seguindo o trilho da ética e do “fair play” na disputa.
Claro que a direita moderada terá outros nomes, alguns deles podendo vir do “bolsonarismo arrependido”, como seria o caso dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Há ainda, correndo por fora, o gaúcho Eduardo Leite, que carrega sob sua responsabilidade o que restou do PSDB “das antigas”. Mas não dá para negar que Caiado é o nome mais respeitado de um dos maiores partidos do País. Só isso já é mais do que suficiente para seu nome estar cotado em qualquer lista séria de pré-candidatos.