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Covid: por que algumas vacinas protegem por mais tempo do que outras

Covid: por que algumas vacinas protegem por mais tempo do que outras

No Brasil, o Ministério da Saúde já preconiza três doses para toda a população de 12 a 49 anos

Muitos países estão avaliando se devem oferecer mais doses de reforço da vacina que protege contra a covid-19 para se anteciparem ao risco de novas ondas de infecções.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que, no momento, as doses sejam priorizadas para as pessoas mais vulneráveis.

No Brasil, o Ministério da Saúde já preconiza três doses para toda a população de 12 a 49 anos. Para aqueles com mais de 50 anos ou que apresentam algum problema de imunidade, uma quarta dose é indicada.
Mas por que esse imunizante parece precisar de doses repetidas, quando a proteção de outras vacinas chega a durar a vida toda?

Velocidades distintas

A frequência com que você deve ser vacinado depende em parte da rapidez com que o vírus ou a bactéria que está sendo combatido se modifica e sofre mutações.
Por exemplo: todos nós precisamos tomar as doses da vacina contra o sarampo na infância, o que deve nos proteger contra esse patógeno pela vida toda.
O vírus do sarampo não muda muito. Assim, uma vez que o corpo tenha visto como ele é, pode continuar a reconhecê-lo por décadas. Afinal, ele continuará a ser mais ou menos o mesmo.
Os vírus da gripe, por outro lado, evoluem com muita rapidez.
Uma vacina aplicada neste ano treinará seu sistema imunológico para reconhecer três ou quatro cepas que estão em circulação no momento.
Porém, no próximo inverno, o agente infeccioso sofrerá tantas mutações e se tornará tão diferente que seu corpo não consegue mais reconhecê-lo bem.
Por isso, a vacina contra a gripe é oferecida todos os anos a quem mais precisa, como idosos, crianças e gestantes.

Tanto os estudos laboratoriais quanto as taxas de infecção sugerem que o vírus que causa a covid-19 sofreu mutações suficientes para escapar de parte da proteção fornecida pela primeira rodada de vacinas, que começaram a ser aplicadas a partir de 2021.
No entanto, os imunizantes disponíveis permanecem cerca de 90% efetivos contra a hospitalização após a aplicação de uma terceira dose. Essa taxa cai para cerca de 75% após três meses, segundo a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido.
Já o Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul diz que “a vacinação de reforço aumenta os níveis de anticorpos”.

A capacidade de ‘lembrar’ das ameaças

Há evidências de que a capacidade do nosso corpo de bloquear o coronavírus diminui relativamente rápido após a vacinação ou a infecção.
Mas a capacidade de evitar doenças mais graves dura mais. O problema é determinar exatamente quanto tempo essa proteção seguirá válida, tema que ainda está sendo estudado pelos especialistas.
Mesmo que um patógeno não tenha mudado muito, a memória do sistema imune pode desaparecer à medida que os anticorpos e outras formas de proteção começam a se desgastar.
E as células de defesa parecem se lembrar de algumas infecções melhor do que outras, por razões ainda não totalmente compreendidas.
Parte disso provavelmente tem a ver com os diferentes tipos de imunidade que a gente desenvolve, segundo o microbiologista Simon Clarke, da Universidade de Reading, no Reino Unido.
Os anticorpos produzidos pelo sistema imunológico para alguns vírus após uma infecção ou vacinação desaparecem de forma relativamente rápida. Mas esse processo geralmente deixa para trás as células T, que oferecem uma proteção mais lenta e duradoura. Essas unidades de defesa não impedirão que você pegue a infecção, mas podem evitar que você fique muito doente e precise ser internado ou corra risco de morte.
O lugar do corpo onde ocorrem essas respostas imunes também desempenha um papel revelante, diz Clarke.
O vírus que causam a covid-19 afetam o nariz e o trato respiratório. Embora existam respostas imunes que ocorrem nessa parte do organismo, a maioria dos anticorpos produzidos após a vacinação são encontrados no sangue.
Portanto, você ainda pode contrair a infecção, mas os anticorpos e outras estratégias imunes vão impedir que ela ‘se aprofunde’ em seu corpo, protegendo justamente contra as complicações mais graves da doença.

O vírus é novo

Outra coisa a ter em mente é a frequência com que você está exposto a uma infecção.
Você pode nunca ter contato com o tétano, o que significa que a vacina é a única chance que seu corpo tem de aprender como é a bactéria causadora da enfermidade e a melhor maneira de combatê-la.
Depois de alguns anos, essa memória imune tende a desaparecer.
Por outro lado, um patógeno respiratório comum chamado vírus sincicial respiratório (VSR), que pode deixar as crianças muito doentes, geralmente é extremamente leve ou assintomático em adultos.
Você provavelmente já foi exposto a ele tantas vezes que seu sistema imunológico se torna muito eficiente em combatê-lo.
Antes do final de 2019, ninguém havia tido contato com o coronavírus causador da covid e, portanto, não havia imunidade contra ele.
Passados mais de dois anos do surgimento desse agente infeccioso, os dados mostram que as pessoas tiveram muito contato ele. De acordo com pesquisas feitas no Brasil, na Suécia e na Reino Unido, a combinação de vacinas e da infecção fornece uma proteção forte.
No entanto, alguns cientistas levantaram preocupações de que isso levará mais pessoas a desenvolver a chamada covid longa, com sintomas que se prolongam por meses (ou até anos).

Ainda precisaremos de reforços?

Representantes da OMS disseram em janeiro que “é improvável que doses repetidas de reforço da composição original da vacina sejam apropriadas ou sustentáveis”.
Muitos países de renda mais alta ofereceram uma terceira dose da vacina a todos.
Porém, quando se trata de uma quarta dose, a maioria das estratégias de reforço foi direcionada até o momento a grupos mais vulneráveis às complicações da covid.

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